No último dia de 2020, uma tartaruga-gigante foi avistada no litoral do Paraná para desova. A espécie está em risco grave de extinção e raramente escolhe esse local para se reproduzir. O último evento deste tipo foi registrado em 2010.
Diante do raro acontecimento, uma equipe do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BS) e do LEC/UFPR (Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná isolou um trecho da praia de Pontal do Sul, no município de Pontal do Paraná.
A tartaruga postou cerca de cem ovos, que devem ser preservados porque a espécie é protegida integralmente por norma federal.
Segundo a bióloga Camila Domit, a tartaruga-gigante é uma espécie criticamente ameaçada de extinção e precisa de todos os cuidados e monitoramento especializado de dia e de noite durante todo seu período reprodutivo.
“A tartaruga possivelmente voltará daqui uns dez dias para nova desova, podendo subir a praia para deposição de ovos até dez vezes na mesma temporada”, ressalta a pesquisadora, que coordena o LEC/UFPR, vinculado ao Centro de Estudos do Mar.
O aviso da equipe é para que a população não interfira em nenhuma etapa do processo, visto que molestar animais é crime conforme a legislação ambiental vigente.
Assim, segue a orientação de não mexer nem tocar na tartaruga (caso ela volte), e evitar mesmo frequentar o local. Obedecer as orientações é essencial para dar chance de sobrevivência aos filhotes da espécie ameaçada, que já têm baixa expectativa de chegar à vida adulta.
Isso vale para qualquer animal marinho, tanto para os que encalham devido a algum problema de saúde quanto para os que encontram local para reproduzir, assim como a tartaruga-gigante de Pontal.
MORTES POR ENCALHES SÃO FREQUENTES
Também conhecida como tartaruga-de-couro, a Dermochelys coriacea é a maior espécie de tartaruga marinha existente, podendo medir até dois metros e pesar 700 quilos. Vive usualmente na zona oceânica durante a maior parte da vida, aproximando da zona costeira apenas quando em busca de alimentos, como as águas-vivas.
Em geral, a espécie começa a se reproduzir após os 20 anos e a única área regular de desova conhecida no Brasil situa-se no litoral norte do Espírito Santo (região de Regência, ES). No Piauí e mesmo no Paraná já foram registradas fêmeas desovantes, mas não tão constantemente como no Espírito Santo.
De acordo com a classificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) é uma espécie criticamente em perigo de extinção. Apesar da proteção integral (proibição de captura, transporte, armazenamento, guarda, manejo, beneficiamento e comercialização), ainda são registrados encalhes de animais adultos, causados por saúde debilitada, nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
“Na costa brasileira não temos registro apenas de animais nascidos no Brasil, há ocorrência de grande número de animais que vêm do Gabão e de outras regiões da África, que se alimentam nas águas do Sudeste e sul. Um desova como esse evento no Paraná pode estar relacionado a diferentes motivos, inclusive ser consequência dos efeitos de mudanças climáticas, da demanda da espécie por novas áreas para reprodução ou até uma influência do processo comportamental de migração desses animais”, afirma Camila Domit.
A ocorrência de mortes de tartarugas marinhas por encalhe é alarmante no Brasil, segundo artigo publicado recentemente por pesquisadores de sete universidades brasileiras, incluindo do Centro de Estudo do Mar (CEM) da UFPR, ao qual o LEC é vinculado.
TARTARUGA-GIGANTE: DESOVA É RARA NO PARANÁ
As ocorrências reprodutivas anteriores desta espécie de tartaruga no Paraná foram entre os anos de 2007, 2009 e 2014, e se referia a um mesmo animal identificado que acabou indo a óbito, provavelmente devido à captura incidental em atividades pesqueiras (o animal tinha marcas e a presença de anzóis de pesca comercial).
A bióloga e gerente operacional do PMP-BS/UFPR, Liana Rosa, vê como “privilégio” poder monitorar e compartilhar informações sobre a espécie. “A tartaruga-gigante é um animal resistente que habita nosso oceano há milhões de anos, mas está exposta a diversos tipos de impacto. Apesar de sua magnitude, é sensível às mudanças e à degradação ambiental. Sua reprodução geralmente não tem alto sucesso em percentual de nascimento de filhotes e sobrevivência deles até a vida adulta”.
Os principais desafios que essa e outras espécies de tartarugas vem enfrentando hoje em nosso oceano são a diminuição dos recursos alimentares devido a degradação ambiental, captura acidental pela atividade pesqueira, e a contaminação dos mares. Todos nós podemos fazer algo para contribuir com a conservação desta espécie, cuidando de nossa relação com a qualidade e saúde do planeta!
PROJETO MONITORAMENTE DE PRAIAS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama. Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos.
O PMP-BS é realizado desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), sendo dividido em 15 trechos. O LEC/UFPR é responsável por monitorar e avaliar os encalhes no Trecho 6, compreendido entre os municípios de Guaratuba e Guaraqueçaba (PR).
Do Paraná Portal (*Com informações do PMP/BS e da UFPR)