Como a vacina contra o novo coronavírus poderia ser segura se foi produzida, testada e autorizada em tempo recorde? Como podemos confiar em algo apoiado pelo governo de Donald Trump?
Se as vacinas já costumam atrair mitos e rumores normalmente, o imunizante contra a Covid-19 parece um ímã para ficções.
Aqui estão alguns dos mitos e inverdades mais comuns:
As vacinas foram muito apressadas. Não dá para saber se são seguras
É verdade que as vacinas produzidas contra o novo coronavírus foram criadas em tempo recorde. Mas não é porque elas foram apressadas. É por causa da preparação cuidadosa. A tecnologia por trás das vacinas da Pfizer-BioNtech e da Moderna (as duas primeiras a passar pelo processo regulatório dos Estados Unidos) está em estudos há mais de uma década e foi feita exatamente para uma situação de pandemia.
Essa tecnologia de encaixe e funcionamento precisa apenas do código genético de um novo vírus, que, no caso do coronavírus ou Sars-CoV-2, estava disponível poucos dias depois de ele ser identificado e isolado.
O desenvolvimento de vacinas costuma ser lento porque, ao contrário da crença popular, elas não geram muito dinheiro para as empresas farmacêuticas, de modo que a produção não aumenta a menos que haja um mercado garantido.
Nesse caso, o governo dos Estados Unidos pagou bilhões à vista para que as empresas se sentissem seguras para seguir em frente e fabricar vacinas, ao mesmo tempo em que iniciavam o processo de testes clínicos que demora meses.
Os testes foram rápidos por causa da própria pandemia
Tantas pessoas estavam sendo infectadas enquanto os testes aconteciam que não demorou muito para atestar que a vacina poderia proteger as pessoas da infecção. Além disso, os hospitais e laboratórios acadêmicos que fizeram os testes agilizaram seus próprios processos, organizando a papelada diariamente, por exemplo, em vez de esperar semanas para arquivá-la em lotes.
Além disso, os cientistas da FDA (a agência reguladora de medicamentos e alimentos nos EUA) que revisaram os dados trabalharam sete dias por semana para revisar as informações, deixando de lado todo o resto para agilizar suas decisões.
As próprias empresas se submetem a especialistas externos chamados Comitês de Monitoramento de Dados e Segurança enquanto os testes estão em andamento.
Por fim, a revisão foi sujeita a olhos externos. A FDA submeteu todos os dados ao independente Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados, um grupo de especialistas, em sua maioria não ligados ao governo ou ao setor, que revisou os dados. Eles votaram de forma esmagadora que as vacinas da Pfizer/BioNtech e da Moderna são tão eficazes e seguras quanto as empresas que as fabricaram afirmam que são.
Quem quiser pode ver os dados. Está postado online, e foi publicado no New England Journal of Medicine para qualquer especialista revisar e criticar.
Pessoas que têm alergias não podem tomar as vacinas
É verdade que as pessoas que têm alergia aos ingredientes específicos dessas vacinas não deveriam tomá-las. Mas essa é uma lista muito curta e pode incluir ingredientes como o polietilenoglicol.
As vacinas antigas contra a gripe são cultivadas em ovos e algumas pessoas com alergia a ovos foram alertadas contra a ingestão de algumas dessas formulações – mas mesmo estas foram reformuladas nos últimos anos e muitas já não contêm ovos. As vacinas contra o novo coronavírus não são feitas com ovos. Eles também não contêm conservantes que podem desencadear alergias.
“Sinceramente, a anafilaxia e outras reações alérgicas graves são consideradas um risco potencial com todas as vacinas licenciadas”, disse a doutora Elissa Malkin, professora assistente de pesquisa de medicina na Universidade George Washington e coinvestigadora do ensaio clínico da vacina da Moderna na universidade.
“Não é surpreendente que, à medida que mais pessoas são vacinadas, surjam reações alérgicas. Esperamos que sejam incomuns e raras”, disse Malkin à CNN.
Nenhuma reação alérgica foi observada nos testes clínicos das vacinas Moderna e Pfizer, que envolveram pouco menos de 80 mil pessoas. No entanto, à medida que são aplicadas em milhões de pessoas, é provável que mais casos sejam vistos.
Uma profissional de saúde que sofreu uma reação alérgica em Fairbanks, Alasca, divulgou na sexta-feira (18) um comunicado dizendo que tomaria a vacina novamente. “A anafilaxia é um efeito colateral potencial raro, mas esperado, que é tratável e não tem implicações de saúde a longo prazo como a Covid-19”, disse.
“Eu tomaria a vacina e recomendaria a qualquer pessoa, apesar da minha reação”, acrescentou. “Eu vi de perto o sofrimento e a morte de pacientes de Covid-19 e minha reação adversa à vacina é mínima em comparação ao que a infecção de Covid pode fazer às pessoas”.
A vacina mudará permanentemente seu DNA
Esse boato pode ter começado porque as vacinas Pfizer e Moderna usam material genético. Mas eles não mudam o DNA. Eles usam RNA, que não fica passeando pelo corpo.
O ex-diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, Tom Frieden, sugeriu esta analogia:
“Uma vacina de mRNA não contém o vírus em si. Pense nisso como um e-mail enviado ao seu sistema imunológico que mostra a aparência do vírus, instruções para matá-lo e, em seguida, como uma mensagem do Snapchat, ele desaparece. É uma tecnologia incrível”, Frieden tuitou.
A vacina é mais perigosa que a Covid-19
Médica do pronto-socorro da Universidade Brown, a doutora Megan Ranney, fala desse mito. Ela observou que pelo menos 1% das pessoas que contraem o novo coronavírus morrem por causa dele. “Outros 10% a 20% estão hospitalizados. Outros 30% ou mais apresentam sintomas de longa duração. A vacina é muito mais segura, com apenas pequenos efeitos colaterais temporários”, afirmou Ranney no Twitter.
Nos testes de vacinas da Pfizer e da Moderna, nenhum efeito colateral preocupante foi observado. A Covid-19 já matou mais de 313 mil norte-americanos e mais de 1,67 milhão de pessoas no mundo todo (e mais de 185 mil no Brasil), de acordo com a Universidade Johns Hopkins.
O coronavirus é apenas um mito
Se for uma conspiração, é uma bela de uma conspiração. Dezenas de milhares de médicos e enfermeiras em todo o mundo devem fazer parte desse complô. Cada governo, as Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde, o CDC e inúmeras outras organizações devem participar.
As empresas de mídia, grandes e pequenas, devem estar por dentro dessa conspiração e os usuários das mídias sociais ao redor do mundo também devem decidir mentir ao postar fotos de seu próprio sofrimento e de entes queridos que sofreram com o vírus e foram mortos por ele.
(Texto traduzido, leia o original em inglês).
Do CNN Brasil