Santa Catarina é o estado com a maior lotação em UTIs para pacientes com o novo coronavírus, com 88,3% de suas vagas em uso, de acordo com levantamento da CNN feito a partir de dados das Secretarias de Saúde estaduais.
Em seguida, de acordo com os números compilados até 20h de terça-feira (8), aparecem Paraná (87%), Pernambuco (87%), Espírito Santo (83,6%), Mato Grosso do Sul (82%) e Rio Grande do Sul (81,9%).
Na outra ponta do ranking estão Minas Gerais (23,5%), Mato Grosso (35,9%) e Maranhão (38,2%), os únicos com menos de 40% das vagas em UTI para Covid-19 em uso.
No estado de São Paulo, onde está concentrada a maior quantidade de casos e mortes causadas pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, 57,5% dos leitos de UTI para tratamento do novo coronavírus estão ocupados.
Para a médica e diretora presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Suzana Lobo, o aumento nos índices de ocupação de leitos pelo Brasil repete o que se viu na primeira onda da pandemia.
“As taxas aumentaram inicialmente nos hospitais privados e, em seguida, nos hospitais públicos. É evidente que é uma segunda onda.”
Os dados estaduais, no entanto, não refletem a situação de cidades onde a rede de saúde está perto do colapso.
Ao se analisar apenas os números das capitais, a situação mais preocupante é a do Rio de Janeiro, onde 91% dos leitos para pacientes com Covid-19 estavam em uso na noite dessa terça (8). Além disso, os leitos de enfermaria para o novo coronavírus têm 87% de ocupação na capital fluminense.
Os dois índices são maiores do que os registrados em dois momentos críticos para o sistema de saúde carioca, nos dias 3 de junho e 2 de outubro, datas marcadas por recorde de mortes e de novos casos confirmados da doença.
Em 2 de outubro, quando o Rio de Janeiro chegou ao pico de 3.180 novos casos em 24 horas, a ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 era de 76,04%, enquanto nos leitos de enfermaria dedicados ao tratamento de pacientes infectados, o índice era de 54,6%.
Em 3 de junho, data em que a cidade chegou ao número recorde de 277 mortes por Covid-19 em 24 horas, a ocupação dos leitos de UTI na rede de saúde era de 87%, enquanto os leitos de enfermaria tinham 55% de ocupação.
Até essa terça-feira, 344 pessoas estavam na fila para internação na rede municipal carioca. Destes, 162 esperavam entrada em leitos de UTI, sendo assistidas em leitos de unidades pré-hospitalares.
Para a presidente da Amib, é importante destacar que há menos leitos no sistema público de saúde do que no sistema privado. “Esse sistema público atende à grande maioria da população brasileira, principalmente no Norte, onde chega a atender 90% das pessoas”, afirmou.
Há cerca de duas semanas, a taxa de ocupação dos leitos de UTI municipais no Rio era de 79%, segundo números da Secretaria Municipal de Saúde. Exatamente neste período, entre os dias 16 e 21 de novembro as internações em hospitais municipais tiveram um salto, com o índice de ocupação passando de 93%.
Proporção de leitos não garante baixa ocupação
Alguns dos estados com mais 80% de ocupação de leitos de UTI estão entre os que têm as maiores proporções de leitos por 10 mil habitantes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que essa proporção esteja entre 1 e 3, enquanto índices abaixo de 1 indicam insuficiência nas estruturas hospitalares.
Dados compilados pela Amib a partir de dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNAES), da Agência Nacional de Saúde (ANS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o estado com a segunda maior quantidade de leitos por 10 mil pessoas é Pernambuco (3,11), que atualmente registra 87% de seus leitos ocupados.
Espírito Santo (2,18), Paraná (1,81), Rio Grande do Sul (1,81), Mato Grosso do Sul (1,52) e Santa Catarina (1,3) estão entre as unidades federativas com mais de 80% de UTIs ocupadas e cumprem a proporção de leitos de UTI indicada pelas autoridades de saúde.
Lobo expressou preocupação com a nova alta de casos, mortes e internações por Covid-19 no país.
“Estamos muito preocupados, porque os profissionais de saúde acabaram de sair daquela primeira onda muito cansados, exaustos. Eles ainda precisam de recuperação e suporte emocional. Não houve tempo para isso e já têm que voltar para o front e enfrentar essa segunda onda”, afirmou.
A médica, que observa as experiências vividas por outros países, não espera uma segunda onda da pandemia mais amena do que a primeira.
“A gente tem visto nos outros países que, na verdade, a segunda onda tem sido bastante forte e castigado bastante hospitais de países que têm, inclusive, um grande número de leitos”, destacou.
“O que a gente espera? Sem dúvida nenhuma, a gente tem que se preparar para o pior”, afirmou a especialista.
Com CNN Brasil