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Quase metade dos alunos podem ser infectados dois meses após volta às aulas, aponta simulação

O maior número de infectados seria em escolas menores e caso as regras de distanciamento social e higiene não sejam rigorosamente cumpridas

Uma simulação sobre a dispersão do novo coronavírus calcula que, 60 dias após a retomada das aulas presenciais, entre 11% e 46% dos alunos e professores de uma escola podem ser infectados. O maior número de infectados seria em escolas menores e caso as regras de distanciamento social e higiene não sejam rigorosamente cumpridas.

O cálculo foi feito pelos grupos de estudo Ação Covid-19 e a Repu (Rede Escola Pública e Universidade), que reúnem pesquisadores de UFABC, Unifesp, UFSCar, IFSP, Universidade de Bristol (na Inglaterra) e Escola de Aviação do Exército (na Colômbia). A simulação foi feita considerando a volta de apenas 35% dos alunos, conforme prevê o protocolo da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. No estado, o governo paulista planeja o retorno das atividades presenciais a partir de 7 de outubro.

No Paraná, as aulas na rede estadual estão suspensas desde o dia 20 de março e o retorno dos alunos para as escolas, previsto para ocorrer em setembro, ainda não tem data definida oficialmente. No entanto, o estado já trabalha em um protocolo elaborado pelo Comitê de Volta às Aulas, que é formado por membros das Secretarias da Educação, Casa Civil e Planejamento, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Antes da volta às aulas, pais de estudantes devem ser consultados, para entender em qual modelo eles se sentem mais seguros em manter seus filhos, se em aulas presenciais ou apenas remotas.

A pesquisa

Os pesquisadores consideraram que a cada dez dias uma nova pessoa que frequenta a unidade fosse infectada. A partir desses indivíduos infectados, o estudo avaliou como seria a dispersão do vírus para as demais pessoas – a calibragem do cálculo considera que há 39% de chance de transmissão do vírus de uma pessoa infectada para outra. O estudo considerou três momentos de maior interação entre alunos e funcionários ao longo do dia: entrada, intervalo e saída.

“O estudo não pretende ser uma previsão do que vai acontecer, mas, sim, simular a dispersão que pode ocorrer caso alguém infectado frequente uma escola. Para isso, consideramos dois cenários: o de uma escola com maior área, onde as pessoas podem ficar mais distantes, e uma escola menor”, disse Patrícia Magalhães, pesquisadora da Universidade de Bristol.

Simulações

Para a primeira simulação, os pesquisadores usaram os dados de uma escola estadual de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Essa unidade, com 400 alunos e 9.000 m², permitiria um distanciamento maior entre os frequentadores.

Num cenário em que todos da escola estejam cumprindo as regras de distanciamento e de higiene, o cálculo considera que 70% dos frequentadores não se movimentam dentro da unidade e as interações ocorreriam apenas em três situações durante o dia. Ainda assim, 10,7% dos alunos e professores poderão ter sido infectados dois meses após o retorno se houver a presença de um infectado a cada dez dias.

No segundo cenário, com uma escola menor e mais cheia, eles consideraram uma unidade da Brasilândia, na zona norte da capital. Para isso, usaram os dados de um colégio com 700 alunos e 6.500 m².

Ainda que as regras de distanciamento sejam cumpridas, nessa escola a dispersão do vírus seria maior por causa do adensamento. Ao final de dois meses, considerando a entrada de um infectado a cada dez dias, 46,3% dos alunos e professores teriam sido infectados.

“Fizemos uma simulação conservadora, considerando um número baixo de pessoas infectadas indo à escola, e vimos como a dispersão pode ser grande. Em escolas mais adensadas, a disseminação seria muito maior”, disse Magalhães.

No caminho da escola

Segundo a pesquisadora, as simulações consideram apenas as interações dentro das escolas, sem levar em conta o trajeto que alunos e professores fariam para chegar até as unidades e o contato com familiares.

“A reabertura das escolas vai mudar a dinâmica da epidemia no estado porque os colégios não são ilhas, não são bolhas protegidas. O cálculo mais conservador mostra o potencial de dispersão apenas dentro das unidades, mas precisamos considerar que essas pessoas vão voltar para casa, vão usar transporte público e infectar ainda mais gente”, disse o professor de políticas educacionais Fernando Cássio, da UFABC e integrante da Repu.

Ele destacou ainda que as simulações mostram que as dinâmicas de infecção pelo coronavírus são bastante sensíveis às caraterísticas físicas e demográficas das escolas e só seriam evitadas se a quantidade de estudantes presentes nos ambientes escolares fosse bem inferior aos 35% recomendados pelo governo.

Os cálculos do simulador apontam que, em escolas mais adensadas, a dinâmica de infecção só poderia ser controlada com o retorno de menos de 7% dos alunos. “Está sendo muito difícil manter as atividades a distância, mas não podemos colocar os estudantes, professores e suas famílias em risco”, disse Cássio.

Da Folhapress

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