Vendedores brasileiros voltaram a atenção ao cenário internacional da commodity
Os preços de soja em grão atingiram novos patamares recordes em abril. Esse movimento de alta está atrelado à significativa elevação do dólar frente ao Real, que segue favorecendo as exportações brasileiras – a moeda norteamericana está acima dos R$ 5,00 desde 16 de março. Na média de abril, o dólar foi de R$ 5,3306, fortes aumentos de 9,3% sobre março e de 36,9% sobre abr/19.
Assim, atentos ao produto barato e abundante, novos compradores internacionais direcionaram suas aquisições ao Brasil. Como consequência, a soja em grão foi negociada acima de R$ 100/saca de 60 kg em Paranaguá (PR) em todo o mês.
Diante da firme demanda externa e dos preços atrativos aos vendedores, o volume comercializado da safra 2019/20 no Brasil chegou em cerca de 80% e, da 2020/21, em aproximadamente 20% – quantidades recordes em comparação a esses mesmos períodos de anos anteriores, segundo agentes consultados pelo Cepea.
Ressalta-se que, apesar dos patamares nominais recordes, boa parte da safra já havia sido negociada antecipadamente. Alguns produtores negociaram, em abril, volumes para serem entregues no segundo semestre deste ano e também parte da safra 2020/21, com entrega prevista para o primeiro semestre de 2021.
No final de abril, entretanto, a liquidez foi menor no mercado doméstico, uma vez que muitos sojicultores se afastaram das comercializações envolvendo grandes lotes. Isso aconteceu porque o produtor já comercializou grande parte da safra 2019/20 e não sinaliza necessidade de vender maiores volumes no curto e médio prazos – a tendência é que muitos armazenem o remanescente da temporada para vender nos próximos meses.
Vendedores brasileiros voltaram a atenção ao cenário internacional da commodity. Na Argentina, a colheita chegou ao pico em abril, com relatos de quebra. Nos Estados Unidos, produtores começaram o cultivo da safra 2020/21. No Brasil, novos volumes chegam ao mercado apenas no começo de 2021, já que o cultivo ocorre em setembro/20. Esse cenário deixa em alerta as indústrias brasileiras quanto ao abastecimento da matéria-prima no segundo semestre. Na última semana de abril, inclusive, houve notícias de importação de soja do Paraguai por parte de fábricas paranaenses, que já indicavam dificuldades na compra do grão.
O lado bom é que a demanda externa pelos derivados esteve elevada no decorrer de abril, cenário que ainda resultou em boa margem de lucro das indústrias nacionais.
PREÇOS – Entre as médias de março e abril, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) registrou significativa alta de 7,7%, a R$ 102,30/sc 60 kg, a maior desde setembro/18, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de março/20. Sobre abril/19, a valorização foi de significativos 26%, também em termos reais. Em abril, o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná subiu expressivos 7,9% em relação a março, com média de R$ 95,19/sc de 60 kg, a maior para um mês de abril desde 2004, em termos reais. Trata-se, também, do maior valor mensal desde setembro/18, em temos reais. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da soja avançaram 6,7% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 8,4% no de lotes (negociações entre empresas) de março para abril.
Quanto aos derivados, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja subiram 13,2% em relação ao mês anterior e 42,8% se comparados a abril de 2019. Já o preço do óleo de soja na cidade de São Paulo/SP, com 12% de ICMS incluso, recuou 1,6% entre março e abril, com valor médio a R$ 3.463,86 /tonelada no último mês. Entre as médias de abril/19 e abril/20, entretanto, houve alta de 28%.
Nos Estados Unidos, os futuros foram pressionados pelos altos estoques. Essas desvalorizações estiveram atreladas à baixa demanda chinesa. Agentes norteamericanos acreditavam em aumento nas exportações de soja ao país asiático, diante do acordo comercial firmado em janeiro deste ano, mas, até abril, as aquisições da China pelos produtos dos Estados Unidos foram significativamente inferiores ao esperado. Com isso, na CME Group (Bolsa de Chicago), o primeiro vencimento registrou a menor média mensal desde maio/19, em termos nominais, a US$ 8,4383/bushel (US$ 18,60/sc de 60 kg) em abril – esse valor é 2,9% inferior à média de março e 4,4% abaixo da de abril/19. De óleo de soja, o contrato de primeiro vencimento esteve nos menores patamares desde outubro de 2006, em termos nominais, a US$ 0,2620/lp (US$ 577,61/t) em abril, 2,6% abaixo da média de março e 8,3% menor que o de abril/19.
De farelo de soja, o contrato de primeiro vencimento recuou significativos 5,8% na comparação mensal e 4,6% na anual, a US$ 291,75/tonelada curta (US$ 321,59/t) em abril IMPACTOS DO COVID-19 – A comercialização de soja em grão no Brasil não foi impactada negativamente pelo coronavírus. Isso porque a pandemia depreciou ainda mais a moeda nacional frente ao dólar, cenário que, inclusive, incentivou as exportações dessa commodity. Agentes consultados pelo Cepea ressaltam que a comercialização de soja nunca esteve tão avançada como nesta safra, considerando-se esse mesmo período das temporadas anteriores. No mercado de farelo de soja, embora a demanda doméstica pelos setores de aves e suínos tenha diminuído, esse cenário já era previsto antes da pandemia, pois o custo de produção desses produtores já era elevado, diante do alto preço dos insumos.
Já as comercializações de óleo de soja foram significativamente afetadas pela pandemia. Com grande parte dos estados em período de quarentena, a demanda por óleo de soja para a produção de biodiesel registrou forte queda nos últimos meses.
Agrolink (com informações do boletim agromensal Cepea)