Junto com a pandemia do coronavírus, um velho golpe está de volta na praça: o do falso sequestro, em que bandidos ligam para números aleatórios dizendo que sequestraram alguém da família da pessoa que está ao telefone. Na verdade, não há ninguém sequestrado, mas os criminosos abusam da fragilidade das vítimas para receber pagamentos via internet.
Na madrugada da última sexta-feira (17), um agricultor de 64 anos infartou e morreu em Colombo, região metropolitana de Curitiba, ao atender a ligação do falso sequestro da filha feita pelo “telemarketing do crime” – geralmente essas ligações são feitas de dentro da cadeia. Após conversar por telefone com os falsos sequestradores, o aposentado não resistiu ao ataque cardíaco e morreu no sofá na frente da esposa.
A Polícia Civil confirma que não só o golpe do falso sequestro, mas tantos outros estão ganhando força durante a pandemia pela fragilidade emocional da população. Os golpes são os mais variados: de venda de álcool gel falsificado a falsos profissionais de saúde que pedem doações para compras de máscaras e outros equipamentos de combate ao coronavírus. Há até aplicativos que dizem oferecer informações da covid-19 mas que, na verdade, coletam dados do usuário para golpes cibernéticos.
A estratégia dos criminosos no golpe do falso sequestro já é bem conhecida por parte das pessoas. No caso da vítima fatal de Colombo, a ligação do terror ocorreu à 1h30 da manhã e acordou o casal de lavradores. A esposa atendeu o telefone e logo foi surpreendida com uma voz feminina do outro lado da linha que pedia ajuda.
“Eu estava sem meus óculos e não vi o identificador de chamada, mas pensei que fosse minha filha. Uma voz feminina gritava que alguém tinha quebrado o braço dela e estava sendo arrastada para um carro. Meu marido percebeu que algo estranho acontecia e veio na minha direção. Ele pegou o telefone e começou a conversar ”, relembra a aposentada que pediu para não ter o nome dela e nem do esposo identificado na reportagem.
Com o aposentado ao telefone, a extorsão aumentou e com extrema violência. Do outro lado da linha, o golpista diz que se não houver o pagamento do sequestro, a filha do casal seria morta com requintes de crueldade.
“É um terror. A gente fica completamente perdida. Temos uma pequena economia e falamos que faríamos o acerto, mas eles queriam mais dinheiro. Foi aí que meu marido começou a ficar com falta de ar e enfartou no sofá. Tentei socorrê-lo e pedi ajuda, mas ele não aguentou. Era um trabalhador forte, sem problemas no coração, mas não aguentou. Estas pessoas mataram meu esposo”, desabafa a viúva.
Apesar do luto pela morte do marido, a esposa apela não só por punição, mas para que a população fique atenta para não cair no golpe. “Fiz boletim de ocorrência na delegacia e estão tratando estas pessoas como estelionatários. Para mim são assassinos. Eles mataram um pai de família que deixou filhos. Estou arrasada, mas que sirva de alerta para os outros”, ressaltou a esposa da vítima.
Golpes na pandemia
O golpe do falso sequestro início na década de 90, com o surgimento dos telefones celulares. Com a pandemia do coronavírus, os bandidos perceberam uma nova brecha para aplicar o golpe novamente.
O delegado Emmanuel David, da Delegacia de Estelionatos de Curitiba, reforça que os criminosos estão buscando de todas as formas arrecadar dinheiro durante a crise do coronavírus, já que outros times de crime reduziram por causa do isolamento social.
O policial alerta que no caso deste golpe, a maioria das ligações são golpes, ou seja, ninguém foi sequestrado. “Posso afirmar que 99% das ocorrências são trotes. No Paraná, temos grupos especializados que tratam este tipo de crime. Os indivíduos querem se aproveitar do fato que tem mais gente em casa, pois eles não conseguem estar mais diretamente com a pessoa com a questão do distanciamento social. Estão abusando de mensagens, e-mails e telefonemas. Estamos atentos e qualquer problema que entre em contato conosco”, alerta o delegado.
Não caia no golpe!
Emmanuel David orienta a população a como agir caso alguém ligue tentando aplicar o golpe do falso sequestro. A primeira delas é manter a calma e jamais, em hipótese alguma, falar o nome do parente que os bandidos dizem estar sequestrado. Isso porque se os criminosos souberem o nome, vão explorar isso na ligação. Basicamente, eles jogam com a sorte para “advinhar” o nome do parente que estaria sequestrado.
Outro passo importante, reforça o delegado, é pedir ajuda para outra pessoa na casa no momento da ligação. Neste caso, orienta o policial, mantenha a conversa com o golpista, sem dizer o nome do parente que estaria sequestrado, e peça para a outra pessoa ligar para quem os bandidos dizem ter como refém. “ Peça para outra pessoa entrar em contato por celular para o possível sequestrado. O ideal é ligar. Enquanto isso, deixe o golpista falar e não entre em desespero. Lembro que isto é golpe e mantenha firme o raciocínio”, conclui o delegado.
Fonte: Tribuna do Paraná